Súplica

domingo, 17 de outubro de 2010


Se ter um pedaço do peito faltando é algo complicado de se administrar, imagine ter o coração aberto em vários pontos. Pois esta é a rotina de Medina. Viver na obscuridade de sentimentos e refém de um músculo involuntário o deixava inquieto. E ele queria mudar a qualquer custo. Mas não conseguia.

A angústia toma de conta só de lembrar das inúmeras despedidas. Ver subidas e descidas de aviões virou rotina. E uma rotina má. Porque o coração sempre saía mais despedaçado. Era inevitável. E olhe que o rapaz de pele negra e olheiras profundas tentava amenizar.

Por ele, todos os pedaços seriam colados imediatamente. Mas esta é uma coisa que está além do alcance. Milhares de quilômetros além. Uma pena; uma dor enorme. Daí...o jeito é contentar-se com os encontros efusivos.

Há um ano e três meses, Medina segue uma vida incompleta. Não sabe como consegue. Apenas tem a certeza de que, um dia, vai conseguir reunir todos os cacos. Dele e dos que quer por perto. Também espera que seja tudo muito rápido. Do contrário, pode não suportar a dor de outras partidas.

Aos que vieram e foram à ilha, ele pede: voltem logo. De preferência, em definitivo. Ou, então, jamais serei feliz por completo. Sempre ficará faltando um pedaço.
--------------
Bruno de Castro.

0 comentários: