O frenesi do consumismo

quarta-feira, 12 de setembro de 2007

Pernas, pés, braços e mãos alucinadas. A loucura para comprar as tentações dos shoppings me era visivelmente notada numa certa tarde de sábado, em Fortaleza. Pessoas entrando e saindo, crianças chorando e pedindo. Tudo conspirava para mais um final feliz do comércio. Os preços, apesar de não emitirem nenhum som, nenhum ruído, faziam com que o alarde fosse maior, quase ensurdecedor. Mas os sujeitos ativos da situação sequer reparavam no entra e sai. Deliravam demais para se ocuparem com outras pessoas que também estavam ocupadas demais com os mesmos desafios de aquisição ao máximo em condições inacreditáveis de pagamento.
A cada segundo, o número de possíveis compradores aumentava e, proporcionalmente, o zunido também. Mais pessoas procuravam por ofertas e promoções de última hora para não saírem, pelo menos, sem uma ‘lembrancinha’ para o filho, sobrinho ou para elas mesmas. Os poucos que observavam ‘de fora’ e se davam ao trabalho de reparar na movimentação, só tinham duas opções: ou analisavam o frenético vai e vem, vez por outra dando risadas de determinadas situações, digamos, inusitadas, que facilmente são percebidas em locais de grande concentração; ou aderiam à moda de comprar, comprar e comprar. Mais uma vez tudo conspirava a favor do final feliz do comércio.
No início, era por volta de duas da tarde. Agora, já passava das cinco e a diversão de antes se tornava algo para ser observado com cautela. Eu continuei lá, na entrada do shopping, olhando e analisando alguns dos passos que corriam em direção às vitrines. Era engraçado, porque muitas vezes eu me via naquelas pessoas, loucas por tudo o que era possível de ser comprado, levado pra casa e mostrado a todo mundo. E me via não por acaso, mas por pura loucura minha também, que cansei de subir e descer escadas, entrar e sair de lojas com produtos-tentação. O tempo ia rapidamente e sempre que olhava no relógio me dava conta que tinham se passado várias horas desde que resolvi sentar ali para tentar descobrir o porquê de tanto alarde. Na última vez que olhei pro pulso, as horas marcavam quase nove da noite, e o frenesi continuava como se houvesse nada do lado de fora do shopping. As pessoas continuavam entrando e saindo com sacolas e mais sacolas na mão e sempre pedindo mais para si e para os acompanhantes.
Finalmente, a voz do além existente em todo shopping anunciou que as lojas seriam fechadas dentro de uma hora. E eu permanecia lá, de fora, só observando. E as pessoas disputando preços e melhores condições de compra. Como que mágica, os ponteiros alcançaram as dez da noite e, aos poucos, famílias inteiras, grupos de vários modelos e algumas pessoas solitárias saíam da grande estrutura de metal e concreto feita exclusivamente para que o verbo gastar se materialize. Todas ou grande parte com um olhar de satisfação e desejo quase saciado, mas sempre com o discurso de voltar depois para realizar mais ‘sonhos de consumo’. Eu, vendo que não dava mais para acompanhar o embalo e comprar o que restou, já que a famosa voz do além anunciou o fechamento do shopping, voltei pra casa. No caminho pensei: “e o comércio foi feliz para sempre...”.

BdeCastro.