No visor do aparelho, o nome de uma pessoa conhecida. Digo alô; a voz, embargada, responde: "encontraram doador pro meu filho". A ligação duraria 1min44s. O suficiente para mudar completamente o meu dia. E a vida de Kamila.
Boas novas haviam acabado de chegar. Localizaram os 200ml a quilômetros e quilômetros de distância. Na Alemanha. Mas o dono da medula nem sonha para onde o frasco com material vai.
Por aqui, uma família é só felicidade. Vibra. Chora. Ri. Tira do peito uma angústia. Afinal...falta pouco para a dona da foice deixar de assombrar o dia a dia de um pequeno de quatro anos que só tem dois desejos: namorar Gisele (uma médica curitibana) e ouvir Beyoncé chamando-o de "gostoso", a exemplo do feito de Ivete Sangalo.
Na cabeça, passa um filme. No meu caso, um curta-metragem. Ao lado de Kaio, estive somente por quatro meses. Para Kamila, um longa-metragem de um ano e um mês. Desde o diagnóstico da anemia aplástica até o anúncio da medula óssea compatível encontrada na Europa, foi este o tempo de espera.
Pois bem. Meu almoço foi pras cucuias. O coração acelerado me jogou na rua para comunicar à chefia do jornal o acontecido. Lágrima de lá e lágrima de cá, decidiu-se por mais um dia com a mãe e o filho. Após, seis matérias falando somente do breu à espera da tal compatibilidade, era chegada o o momento de falar da expectativa da viagem para o transplante.
Difícil não se envolver. Mais difícil ainda não se sentir feliz pela conquista do garoto. Basta conhecê-lo para saber do que estou falando. Por isto, digo, sem medo de errar, que estas foram as 24 horas mais felizes dos meus 24 anos.
A todos, obrigado pela torcida.
O Kaio merece.