coração miúdo.

quinta-feira, 10 de março de 2011

basta um movimento.
só um.
a fantasia vai embora e você percebe o quanto é vulnerável.
aí...tudo começa a desabar.

a língua solta farpas ao invés de gentilezas.
o olhar esquece do brilho habitual.
apenas faísca.
de rancor.

os pés tornam-se mais frenéticos do que nunca.
os braços gesticulam que nem asas de beija-flor.
o suor desce.
e mais farpas são atiradas.

do lado de lá, mas com visitas esporádicas, um quarteto ajuda na queda.
voluntariamente.
se duvidar, por puro prazer.
uma pena.

do lado de cá, uma mulher chora angustiada.
o coração dela fica miúdo sempre que vê/sente as farpas.
mesmo que não sejam direcionadas aos seus 83 anos.
afinal...ferimento de filho em filho dói muito mais do que em si.

assisto a um capítulo e já constato: minha base está ruindo.
e eu nada posso fazer para impedir.
temo por mim.
mas muito mais pela matriarca.

A surpresa que veio do velho mundo

sábado, 19 de fevereiro de 2011

18 de fevereiro de 2011. Os marcadores do relógio indicavam 13h41min. E eu estava prestes a colocar a primeira garfada do almoço daquela sexta-feira na boca. Mas o trajeto acabou interrompido por um toque de celular. Do meu celular.

No visor do aparelho, o nome de uma pessoa conhecida. Digo alô; a voz, embargada, responde: "encontraram doador pro meu filho". A ligação duraria 1min44s. O suficiente para mudar completamente o meu dia. E a vida de Kamila.

Boas novas haviam acabado de chegar. Localizaram os 200ml a quilômetros e quilômetros de distância. Na Alemanha. Mas o dono da medula nem sonha para onde o frasco com material vai.

Por aqui, uma família é só felicidade. Vibra. Chora. Ri. Tira do peito uma angústia. Afinal...falta pouco para a dona da foice deixar de assombrar o dia a dia de um pequeno de quatro anos que só tem dois desejos: namorar Gisele (uma médica curitibana) e ouvir Beyoncé chamando-o de "gostoso", a exemplo do feito de Ivete Sangalo.

Na cabeça, passa um filme. No meu caso, um curta-metragem. Ao lado de Kaio, estive somente por quatro meses. Para Kamila, um longa-metragem de um ano e um mês. Desde o diagnóstico da anemia aplástica até o anúncio da medula óssea compatível encontrada na Europa, foi este o tempo de espera.

Pois bem. Meu almoço foi pras cucuias. O coração acelerado me jogou na rua para comunicar à chefia do jornal o acontecido. Lágrima de lá e lágrima de cá, decidiu-se por mais um dia com a mãe e o filho. Após, seis matérias falando somente do breu à espera da tal compatibilidade, era chegada o o momento de falar da expectativa da viagem para o transplante.

Difícil não se envolver. Mais difícil ainda não se sentir feliz pela conquista do garoto. Basta conhecê-lo para saber do que estou falando. Por isto, digo, sem medo de errar, que estas foram as 24 horas mais felizes dos meus 24 anos.

A todos, obrigado pela torcida.
O Kaio merece.