PT ameaça deixar base de apoio a Cid

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Bruno de Castro,
Da Redação

“Se Cid disser que quer o PSDB, muda tudo. Eu mesmo defenderia que o PT saísse da base”. Esse é o futuro do governador, caso aceite as investidas tucanas para a composição de uma grande aliança visando as eleições do próximo ano. A declaração é do presidente estadual dos petistas, Ilário Marques. Atualmente, PT e PMDB são os maiores aliados do Palácio Iracema.

Marques admitiu não manter contato com o governador para discutir alianças políticas “há algum tempo”. Contudo, garantiu que a visão de deixar o Governo por conta da entrada do PSDB não é uma visão pessoal. “A grande maioria do PT pensa desse jeito. E até o Fernando Henrique viu a contradição do PSDB estar num mesmo governo que o PT está”, argumentou, referindo-se à visita do ex-presidente da República ao Ceará semana passada. Na ocasião, Cardoso criticou as políticas do Governo Lula e defendeu a tese de que seu partido tenha candidato próprio ao Executivo cearense.

A previsão de Ilário acontece justo quando Cid Gomes está prestes a tornar-se o presidente regional do PSB e, de quebra, levar nas costas a responsabilidade de costurar as alianças políticas para sua própria re-eleição. O governador assume o cargo no próximo dia 29. Ele substitui Sérgio Novais, que passa a comandar o diretório do partido em Fortaleza.

A chegada de Cid à cúpula do PSB deixa o PSDB eufórico. O ninho enxerga no novo cenário um canal de diálogo mais aberto com vistas à possibilidade do governador defender a re-eleição do senador Tasso Jereissati. Já em meio aos petistas, qualquer aproximação entre as legendas é descartada ao radicalismo. “O PT não vai de jeito nenhum! Não terá acordo com o PSDB. Com eles, não temos diálogo. Temos apenas relações civilizadas. E acho que seria um equívoco político do governador abandonar uma base histórica que está ao seu lado por causa do PSDB”, pontuou Marques.

Ele minimizou ainda o impacto da posse de Cid como presidente na relação do PSB com o PT. Segundo Ilário, mesmo com Sérgio Novais participando das articulações, foi o governador quem encabeçou as negociações para a chapa que lhe deu a vitória em 2006. À época, a coligação de Cid – denominada “Ceará vota para vencer” - aglutinava nove legendas, com o PSDB em outra ponta: na candidatura de Lúcio Alcântara (hoje no PR). “Essa indicação [à presidência do PSB] não nos traz nada de novo. Para nós, é só uma acomodação entre os grupos históricos e os neófitos”, avaliou.

Devagar com o andor. Na Assembleia Legislativa, a bancada petista adotou a cautela como premissa no tocante à postura que adotaria diante da incorporação oficial do ninho no Executivo. Hoje, o PSDB comanda duas secretarias (Turismo, com Bismarck Maia; e Justiça e Cidadania, com Marcos Cals), mas reclama mais espaço e a dobradinha Cid-Tasso.

O deputado Nelson Martins (PT), que ocupa o papel de líder do Governo na Casa, tipificou a chegada do governador à presidência do PSB como “uma questão interna de partido que não traz mudança”. Porém, quando indagado sobre o futuro dos petistas com o ajuntamento tucano, preferiu o silêncio. “Não vou mais tocar nesse assunto. Isso não é para ser discutido agora. É preciso esperar as coisas acontecerem”, avaliou.

Artur Bruno (PT) seguiu a mesma linha da esquiva quando indagado se o partido deixaria o Governo devido ao ninho. Ele disse não trabalhar com a hipótese. No entanto, assegurou: “o PT não participará de aliança com o PSDB no Ceará. É até inimaginável eles apoiarem o Cid, quando o Cid deverá apoiar o candidato do presidente Lula ao Governo Federal”.

Pelas previsões do parlamentar, a aliança do ano que vem será feita principalmente entre PT, PSB e PMDB. Nesse aspecto, o PSDB migraria para outra frente ou teria de conformar-se em lançar um nome para o confronto direto com Cid, que hoje soma altos índices de popularidade junto ao eleitorado. “Não há espaço para o PSDB. Somos como água e óleo. E a entrada do governador na presidência do PSB reforça esse projeto ao lado do PT, do PMDB, do PCdoB...”

Revoada de otimismo. Se o PT sequer especula uma ligação com o partido de Tasso, os pupilos do “galego” têm certeza de que Cid será favorável à coligação com os tucanos. Ontem, o vice-líder do bloco PT-PSB-PMDB na AL, Sérgio Aguiar (PSB), chegou a admitir que o governador tem interesse de aglutinar não só o PSDB, como o Democratas e o PDT. “Ele [Cid] tem a importante missão de ser um grande articulador para manter todos juntos”, comentou.

A declaração mexeu com os ânimos da bancada da social-democracia na Casa. De suplentes a efetivos, todos comemoraram a escalada de Cid ao topo do PSB. “Nós já tínhamos uma boa interlocução com ele no nível pessoal. Agora, isso passa a ser partidário também. Se fosse com o Sérgio [Novais], o diálogo era fechado. Lógico que facilita a aliança”, considerou Luiz Pontes.

O vice-líder da sigla na Assembleia, Tomás Figueiredo, também reforçou a facilidade na aliança com Cid à frente dos debates. Mas com a velha condição do governador ficar ao lado de Tasso rumo à manutenção de mandato no Senado. “Cid é um cara mais aberto e favorável a alianças. Se ele deseja contar conosco, para ele fica mais fácil”, opinou.

Em relação à possível saída do PT da base, o parlamentar debochou: “isso é problema do PT e do governador. Mas PT e PSDB juntos fica complicado mesmo. Onde acontecer isso, vai ser uma forçação de barra muito grande. Fica um clima de mal-estar”.

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